por paulo eneas
Depois de quase um ano ausentes, as manifestações da direita voltaram timidamente às ruas nesse final de semana. Nesse feriado de 15 de Novembro, manifestantes foram às ruas em manifestações em pelo menos oito capitais do país, incluindo Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte.

Motivadas também em parte pelo sucesso estrondoso das manifestações em apoio a Israel realizada em Washington (DC) na véspera do feriado brasileiro, conforme mostramos em reportagem nesse link aqui, os atos desse feriado da República tiveram como pauta, entre outros, o pedido de impeachment de Lula.

A chamada principal das manifestações, o #ForaLula e #ImpeachmentJa, mimetizou o #ForaDilma de 2015 e 2016. As bandeiras de Israel presentes nas manifestações expressaram também a posição dos manifestantes de apoio ao Estado de Israel na presente guerra contra o grupo terrorista Hamas, apoiado e defendido pela esquerda e por quase toda a grande mídia nacional.

A pauta do voto impresso também fez parte do rol de reivindicações. Foi uma tentativa ainda tímida de ressuscitar uma das mais antigas bandeiras políticas da direita brasileira, bandeira essa que foi sepultada pela maneira absolutamente amadora e até mesmo leviana pela qual o ex-presidente Jair Bolsonaro a conduziu durante seu mandato.

Jair Bolsonaro era esperado no ato em Brasília (DF), mas não compareceu, muito provavelmente por conta de um cálculo de prejuízo-benefício político em função do público modesto presente.

A despeito do apelo de alguns ativistas, Jair Bolsonaro não fez qualquer convocação para os atos, como tem sido seu modus operandi recente: opta por não se “comprometer”, deixando o risco inteiramente por conta dos manifestantes. Jair Bolsonaro só aparece em tais eventos se avaliar que pode ter algum ganho político e midiático.

Muitos deputados bolsonaristas também se ausentaram dos atos. Em vez disso, um grupo desses deputados bolsonaristas, liderado por Eduardo Bolsonaro (PL-SP) preferiu passar o feriado nos Estados Unidos onde se encontraram com deputado norte-americano, de origem brasileira, George Santos, que é acusado de fraude, e corre o risco de perder o mandato e ser preso.

Método esgotado de fazer política
O fato é que as manifestações de público reduzido, comparativamente ao que a direita já mostrou ser capaz de mobilizar, neste feriado confirmam o que estamos afirmando há mais de dois anos: a “direita” retrocedeu no tempo e segue usando os mesmos métodos de atuação e as mesmas técnicas discursivas de 2014/2016, quando a prioridade era fazer mobilizações de massa pelo impeachment da então presidente petista Dilma Rousseff.

Ocorre que esse modelo de atuação política se esgotou na era bolsonarista, pois ele foi instrumentalizado e banalizado para fins de alavancagem eleitoral de políticos, a começar pelo próprio Jair Bolsonaro.

A pauta do #ForaLula também não corresponde a um sentimento presente na maioria da população, ao menos nesse momento. É possível falar em #ForaLula em algum momento mais adiante? Talvez sim, caso ocorra deterioração do cenário econômico e fragilização política do governo petista no Congresso Nacional.

Mas o que se tem hoje é exatamente oposto: a bancada do Centrão eleita com apoio de Jair Bolsonaro tem garantido a sustentação parlamentar do Governo Lula. E os deputados bolsonaristas “originais” mostram-se despreparados para o embate político com a esquerda no parlamento, como vimos nas CPIs e nas comissões ao longo desse ano.

O único fato político de peso no horizonte próximo é a possível queda do ministro Flávio Dino e a inviabilização de sua indicação para o Supremo Tribunal Federal.

A possível queda de Flávio Dino estaria associada ao seu desempenho pífio à frente da pasta que chefia, e à sua conduta pública que mimetiza o modus operandi de lacração do bolsonarismo, o que estaria incomodando várias alas petistas.

Segundo nossas fontes, o episódio envolvendo a visita da “dama do tráfico” ao Ministério da Justiça pode ter as digitais da área de inteligência petista, leia-se José Dirceu, que procura um meio de livrar-se do atual ministro, que tanto tem incomodado os petistas.

Portanto, à exceção do affair Flávio Dino, não há no horizonte político imediato qualquer indicação de que um sentimento de #ForaLula possa ganhar uma ampla adesão da população ou encontrar eco no Congresso Nacional, onde a bancada do Centrão eleita com ajuda de Jair Bolsonaro tem entregue ao governo petista tudo o que ele quer e precisa. Colaboração de Angelica Ca.


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