por paulo eneas
Uma eventual vitória de Kamala Harris nas eleições presidenciais desta terça-feira (05/11) nos Estados Unidos será muito mais benéfica para os países emergentes, o que inclui o Brasil, do que a volta de Donald Trump à Casa Branca. Essa é a percepção de muitos analistas de mercado brasileiros sobre os impactos econômicos das eleições americanas, principalmente para os países emergentes.

Nas últimas semanas o mercado vinha precificando o aparente favoritismo de Donald Trump por meio do chamado Trump Trade: montagem de posições compradas em dólar nos principais mercados internacionais. Com isso o dólar se valorizou fortemente nas últimas semanas no mundo todo. No caso do Brasil, essa alta do dólar deveu-se também ao nosso prolongado problema fiscal, acentuado pelo Governo Lula.

A valorização do dólar frente às principais moedas do mundo é uma das componentes contraditórias da plataforma de governo de Donald Trump, pois este prevê também o isolacionismo geopolítico dos Estados Unidos por meio do abandono de aliados tradicionais dos norte-americanos, deixando o caminho livre para o expansionismo russo-chinês. Esse o “big deal” que Donald Trump tem a oferecer ao mundo.

No entanto, nos últimos dois dias houve uma aparente reversão de expectativas mostrando desempenho mais positivo (ou menos negativo) de Kamala Harris em alguns swing states, o que trouxe de volta um cenário mais indefinido quanto ao resultado da eleição.

Em consequência, começou a haver nesta segunda-feira (04/11) uma desmontagem de posições nos Trump Trades, gerando uma queda de cerca de 3% do dólar nos principais mercados internacionais frente às moedas locais. Ao menos nas economias emergentes, queda na cotação do dólar significa valorização dos mercados de capitais locais. No Brasil, essa valorização cambial resultou em alta de 1.80% na Bolsa de Valores nesta segunda-feira.

De um modo geral e bem sintético, os cenários econômicos que analistas de mercado apontam para o resultado das eleições americanas é o seguinte:

• Vitória de Trump: valorização do dólar e enxugamento de liquidez nos países emergentes, isto é, redirecionamento do fluxo internacional de capitais para os Estados Unidos.

• Vitória de Kamala: desvalorização do dólar e redirecionamento do fluxo de capitais dos Estados Unidos para os países emergentes, tanto para os mercados de renda fixa quanto de renda variável (Bolsas de Valores) ou mesmo para investimentos produtivos.

Os fundamentos por trás dessas projeções de cenário envolvem vários aspectos técnicos que merecem ser tratadas em separado. Mas o fato é que a diretriz econômica do governo dos Estados Unidos determina a direção do fluxo internacional da maior parte dos capitais de investimento do mundo todo.

Uma diretriz de governo de viés isolacionista, como defendida por Donald Trump, tende a reter esse fluxo nos mercados americanos, enquanto que uma diretriz que tende manter o papel de liderança do mundo ocidental que os Estados Unidos exercem, inclusive por disponibilizar a principal moeda do comércio internacional via déficits comerciais crescentes, é mais favorável ao direcionamento de parte desse fluxo de capitais para os países emergentes.

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