por paulo eneas
O empresário Roberto Justus afirmou em entrevista à rádio Jovem Pan nesta segunda-feira (27/02) que quem devolveu o Brasil ao Lula e ao PT foi Jair Bolsonaro. O empresário também criticou a conduta do ex-presidente após o segundo turno das eleições, chamando o ex-presidente de covarde.
Jair Bolsonaro “saiu do Brasil, não entregou a faixa, foi covarde, não voltou até agora, não falou com ninguém e quando falou foi uma decepção”, afirmou Roberto Justus, complementando sua afirmação comentando o único, e desastroso, pronunciamento formal do então presidente Jair Bolsonaro após as eleições.
Roberto Justus está parcialmente certo em sua fala, uma vez que ele apontou, com grande repercussão, o que já dissemos em fóruns de discussão e em outras publicações: ao agir de maneira irresponsável e leviana após as eleições, e também em grande parte de seu mandato, Jair Bolsonaro perdeu a oportunidade colocar-se como estadista, por que na verdade ele nunca o foi.
Com sua conduta, Bolsonaro perdeu também a oportunidade de mobilizar seu gigantesco capital eleitoral como força política organizada de oposição de direita, democrática e pacífica ao governo petista que se iniciaria no ano seguinte.
A principal consequência da atitude destrambelhada do ex-presidente resultou na prisão de cerca de mil pessoas que foram induzidas a um erro enorme de conduta por conta do silêncio presidencial pós eleição e pela atuação criminosa de sua rede de desinformantes na internet.
Outra consequência foi a desarticulação de toda a oposição de direita, que ficou com o “carimbo” de golpista perante a opinião pública e por conta disso mais vulnerável a repreensões em sua atuação, abrindo assim espaço para o crescimento da oposição liberal ao petismo representada pelo Partido Novo.
No entanto, Roberto Justus erra ao afirmar que Bolsonaro errou ao “comprar brigas com todo mundo”. O ponto não é esse. O erro de Bolsonaro foi não ter competência e não ter compromisso programático o bastante para comprar as brigas certas, da maneira correta: de acordo com a regras do jogo democrático.
Por exemplo, Jair Bolsonaro conduziu de maneira semelhante a de um adolescente a discussão sobre voto impresso e melhorias no sistema eleitoral. Usou como “argumento” uma suposta e nunca comprovada fraude nas eleições de 2018 nas quais ele saiu como vencedor.
Além do primarismo da sua conduta, Jair Bolsonaro foi incompetente na articulação política com o Congresso Nacional em torno da PEC do Voto Impresso, que expressava uma das mais antigas bandeiras da direita nacional.
A incompetência de Bolsonaro ficou cristalina quando o presidente do Partido Liberal, o mensaleiro Valdemar da Costa Neto, o mesmo partido de Bolsonaro, veio a público dizer com orgulho que seu partido contribuiu para a derrota daquela PEC no Congresso.
Roberto Justus também erra ao dizer que o petista Lula foi responsável pela vitória de Jair Bolsonaro em 2018. Esse erro é comum em liberais que têm apresentado leituras superficiais do recente processo político brasileiro.
Quem levou Jair Bolsonaro à Presidência da República em 2018 obviamente não foi Lula, mas sim um vigoroso movimento de direita iniciado no mínimo por volta de 2008, quando o então deputado do baixo clero Jair Bolsonaro ainda saudava a ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela, ao mesmo tempo em que batia boca com petistas nos corredores do Congresso Nacional para gerar media affairs happenings, possivelmente treinando apara suas bravatas futuras.
Foi este nascente movimento de direita muito anterior a Jair Bolsonaro, que foi capturado pelo então deputado para, usando as pautas deste movimento, eleger-se presidente em 2018 e depois jogar estas pautas no lixo e dizer alto e bom tom que sempre fora um político do Centrão.
Seja como for, em que pese as insuficiências da fala de Roberto Justus, que não é analista nem cientista político, suas declarações são importantes pela enorme repercussão que tiveram, e servem para jogar um pouco de luz no ainda obscuro e precário debate na direita sobre o que foram os quatro anos de Jair Bolsonaro na Presidência da República.
E justamente por ser necessário aprofundar esse entendimento sobre o que realmente foi o Governo Bolsonaro, que o editor do Inteligência Analítica dará um curso sobre a História Política Recente do Brasil, a ser iniciado em 15 de março deste ano.
O curso irá apresentar a trajetória política da nascente direita brasileira a partir de 2008 até a sua chegada à Presidência da República e a derrota do ano passado com a volta dos petistas à chefia do Estado brasileiro.
Sobre a ilustração: a imagem que ilustra esta matéria é uma montagem que expressa um conceito ou ideia em forma pictória. Não há registro de algum evento em que o petista Lula e Jair Bolsonaro tenham estado hipoteticamente juntos.