Imprensa ocidental e sites supostamente de direita erram ao falar em avanço da extrema-direita ou da direita nas eleições do parlamento europeu, quando na verdade o que houve foi a prevalência de um mecanismo de corrupção e suborno arquitetado para a defesa dos interesses expansionistas dos russos.
por paulo eneas
As eleições para o Parlamento Europeu encerradas nesse domingo (09/06) resultaram no crescimento da representação parlamentar do continente das forças políticas europeias aliadas ao ditador russo Vladimir Putin, que de certa forma saiu vitorioso no pleito.
A imprensa ocidental convencional fala em avanço da “extrema-direita”, enquanto veículos supostamente do campo da direita ou conservadores falam em vitória da “direita”. Os dois erram no diagnóstico e análise, um com “extrema”, outro sem.
Na realidade, a relação de forças não mudou substancialmente na composição do parlamento: O Partido Popular Europeu da atual chefe da União Europeia, Ursula von der Leyen, ampliou sua representação para 185 cadeiras, conquistando 9 assentos a mais. É o partido dos políticos tradicionais europeus, como Angela Merkel, Nicolas Sarkozy da França e os herdeiros políticos de Berlusconi na Itália.
A imprensa ocidental tradicional descreve as forças políticas pelo nome de suas agremiações partidárias: assim, elas são referidas como cristãos, democratas, social-democratas, conservadores e outros, como se o nome representasse de fato o programa e a prática política de cada agremiação.
Na verdade, o Partido Popular Europeu trata-se do “Centrão” europeu: é o establishment político continental que incorporou as pautas progressistas de esquerda, como incentivo à imigração em massa, adoção de políticas irracionais e irrealistas para as questões climáticas que penalizam e inviabilizam a atividade agrícola no continente, controle estatal sobre mídias sociais, adoção ampla e generalizada do aborto e pauta identitárias. Eles foram os vencedores e continuarão com a batuta do Parlamento Europeu. (continua após ilustração)
Por outro lado, os principais derrotados foram dois grupos políticos: o Renovação Europeia, que é uma versão Lado B do Partido Popular Europeu majoritário. Liderado por Emmanuel Macron, da França, o Renovação Europeia perdeu 22 assentos no parlamento, reduzindo sua representação para 80 deputados. O segundo derrotado foi a extrema-esquerda representado pelos verdes ou ambientalistas, que perderam 19 cadeiras e reduziram sua representação para 52 assentos.
O que está sendo chamado no Ocidente de vitória da “direita” ou da “extrema-direita” é a conquista de 9 assentos pelo Identidade e Democracia, nome europeu do partido Reagrupamento Nacional de Marine Le Pen, e a conquista de 15 assentos pelo Alternative für Deutschland, da Alemanha, duas forças políticas ostensivamente pró-Moscou.
Ou seja, para a imprensa ocidental ser aliado do ditador Vladimir Putin, continuador do regime da antiga União Soviética, é o mesmo que ser de “extrema-direita”. Para uma parcela da direita ocidental, ser de aliado do ditador russo é ser realmente de “direita”.
Como o leitor pode observar, a desinformação é a tônica presente na maioria da imprensa ocidental, seja ela a grande imprensa ou a “imprensa independente”.
Marine Le Pen: Principal Aliada de Vladimir Putin na Europa
O partido Reagrupamento Nacional de Marine Le Pen, a antiga Frente Nacional, derrotou o partido de Emmanuel Macron na votação francesa para o Parlamento Europeu. Herdeira de uma agremiação política de origem explicitamente antissemita e que abrigou por anos colaboradores dos nazistas durante a ocupação alemã na Segunda Guerra, Marine Le Pen é a principal aliada e defensora de Vladimir Putin na Europa Ocidental, seguida por Viktor Orbán da Hungria.
Marine Le Pen apoiou e defendeu a invasão e anexação da península ucraniana da Crimeia pelos russos em 2014. Poucos anos depois, seu partido recebeu um financiamento de cerca de 11 milhões de euros de bancos ligados a Moscou.
Defensora do aborto, Marine Le Pen já foi recebida por Vladimir Putin no Kremlin com honras de chefe de Estado. Defende a saída da França da cúpula da OTAN, o que equivale a desprestigiar e enfraquecer a aliança militar ocidental, que é basicamente a mesma linha adotada, porém com mais sutileza, por Donald Trump, outro político da mesma estirpe de Marine Le Pen. Reportagem do jornal Gazeta do Povo de abril de 2022 traz todos esses detalhes.
A União Europeia e o Ditador Vladimir Putin
Em 24 de abril desse ano, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução conjunta condenando as “eleições não democráticas” na Rússia e sua “expansão ilegítima para territórios ocupados”, em referência à invasão russa da Ucrânia.
Não por coincidência, as forças políticas europeias pró-Rússia que mais conquistaram novos assentos no Parlamento Europeu estão justamente na França e na Alemanha, países que em período recente mais têm pressionado para um apoio mais ostensivo da Europa Ocidental à Ucrânia em sua guerra contra a invasão russa.
As elites políticas desses países sabem que se o ditador Vladimir Putin for vitorioso nesta guerra, ela não irá parar na Ucrânia: o próximo alvo serão os países bálticos e em seguida o restante da Europa, até o Atlântico.
Mais do que uma ideologia, o eurasianismo é um projeto de poder imperialista russo, encarnado na figura de Vladimir Putin, o Fuhrer do século vinte e um. Provavelmente os europeus não estão dispostos a fazer da Ucrânia uma nova Sudetos*.
Muito provavelmente tanto o Reagrupamento Nacional de Marine Le Pen quanto o Alternative für Deutschland, da Alemanha, tenham recebido ajuda financeira de Moscou para estas eleições. O histórico de ingerência direta da Rússia e da China no suborno e propina a deputados do Parlamento Europeu é extenso.
Um dos casos recentes mais escandalosos envolve um episódio de corrupção em favor dos interesses russos no Parlamento Europeu que ficou conhecido como Crise do Qatar, em que esteve envolvido o deputado alemão Maximilian Krah, do Alternative für Deutschland, que acabou sendo preso, conforme mostra a reportagem do We Will See More Friends of Putin and Xi [Jinping] in the New European Parliament.
O fato é que a imprensa ocidental convencional e, o que é mais lamentável, os sites supostamente conservadores e de direita no Brasil, estão chamando de “vitória da direita” nas eleições do Parlamento Europeu aquilo que na verdade é o fortalecimento de um esquema de corrupção e propina para atender os interesses do regime de ditadura de Moscou. Ocorre que ditadura e corrupção não combinam com uma autêntica direita democrática a qual devemos aspirar.
(*) Sudetos:
Região da antiga Tchecoslováquia que foi tomada por Hitler em 1938 com a concordância e aquiescência dos franceses e britânicos, na expectativa de que com a entrega da região, o líder nazista fosse parar com seus planos expansionistas. O resto da história é conhecido.
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