por paulo eneas
Um observador mais atento irá perceber uma mudança ocorrida em anos recentes no padrão de comportamento de parte da população brasileira em relação aos políticos. E esta mudança não foi de modo algum positiva, apesar das aparências sugerirem o contrário.

Até há poucos anos não se via pessoas comuns do povo, não importa a classe social, empenhadas emocionalmente na defesa de um político a qualquer custo. No máximo as pessoas faziam suas escolhas em época de eleições e o “compromisso” desse eleitor com aquele político cessava ao sair da cabine de votação.

Fora dos períodos eleitorais, a atitude geral da população era sempre de desconfiança e de pé atrás com os políticos, como deve ser. Quem defendia politico em tempo integral eram seus cabos eleitorais, pagos para isso. Observe-se, por sinal, que a palavra “cabo eleitoral” sumiu do vocabulário político.

Por sua vez, a pessoa comum do povo em geral cobrava e culpava os políticos por tudo, independentemente de ter votado nele ou não, não importando se tais políticos eram de esquerda ou de direita. O bordão “político é tudo igual” nasceu daí. Ainda que a afirmação de que “político é tudo igual” seja no mínimo imprecisa, ela espelhava um estado de espírito da atitude geral da população em relação à classe política.

A cismogenia ideológica surgida em anos recentes alterou este comportamento em uma parcela da população. Pessoas passaram a ter políticos de estimação em regime de vinte e quatro por sete, a ir em comícios e passeatas e outros eventos políticos fora de período eleitoral para expressar apoio e “gratidão” a um político já eleito e no exercício de seu mandato.

Como se não bastasse, observamos também a sandice dos rompimentos de relações pessoais de anos e até mesmo de laços familiares por conta de diferenças de opinião política.

No caso das famílias, foi assustador observar pessoas supostamente conservadoras se orgulhando de terem rompido laços de família por razões políticas. Mas como assim? Se para um conservador a família é a base da sociedade e a estrutura social mais importante a ser preservada e defendida, como pode então ele celebrar e se regozijar com o estrangulamento de uma família por conta de diferenças de opinião política?

Esse comportamento caracteriza o que se pode chamar de politização esquizofrênica de parte da sociedade e não pode de modo algum ser visto como uma coisa positiva.

Por que essa politização não resultou numa maior capacidade de pressão e cobrança da sociedade sobre o Estado, mas sim no envolvimento emotivo e irracional de parte da sociedade com determinadas alas políticas do estamento burocrático ou establishment político.

Basta o leitor avaliar cuidadosamente e perguntar-se quando ocorreu a última grande manifestação massiva e de peso em que as pessoas foram para as ruas pacificamente, como tem que ser, para cobrar do Estado a defesa daquilo que interessa de fato à população.

Vai ser difícil lembrar, pois todas as manifestações de rua nos últimos anos foram em favor de um político, e não para cobrar dele. De instrumento de pressão legítima da população sobre os governantes, as manifestações transformaram-se em meros comícios extemporâneos em favor desse ou daquele político. E por isso perderam sua relevância e impacto.

Em decorrência dessa mudança de mentalidade, as pessoas abriram mão de cobrar principalmente do político que elegeram o cumprimento dos compromissos assumidos. A cobrança pelo cumprimento de promessas foi substituída por “mas ele fez tudo que pôde”, “ele tentou”, ficando assim o político livre e seguro para responder com um “lamento, quer que eu faça o que?” nas poucas vezes em que era questionado.

Por fim, o que observamos hoje é que diante de qualquer problema que afeta materialmente a vida das pessoas, desde desemprego até falta de luz ou aumento da criminalidade, em vez de cobrar o político responsável, muitos passaram a se preocupar primeiro em isentar de responsabilidade o político de estimação que adotaram.

Ou seja, tivemos um gigantesco retrocesso até mesmo segundo as noções mais elementares de cidadania. Um retrocesso na maneira pela qual o brasileiro se relaciona com o Estado.

Se antes o brasileiro médio nutria uma mentalidade estatista, no sentido de esperar que o Estado resolva os problemas dele, agora uma parte desses brasileiros continua sendo estatista mas sem esperar nada do Estado, mas apenas para que este Estado seja comandado pelo seu político de estimação. E para conseguir isso, esse brasileiro médio está disposto até mesmo até a brigar e romper com sua família.

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