por paulo eneas
O empresário Cleriston Pereira da Cunha, que faleceu após sofrer mal súbito na última segunda-feira (20/11) no presídio da Papuda em Brasília (DF), onde estava preso desde janeiro sem haver sentença condenatória com trânsito em julgado, foi vítima do sistema judiciário e do cinismo e da onda de manipulação política de massas que tomou conta do Brasil nos últimos anos.
O empresário estava entre as mais de mil pessoas que foram presas após os episódios de depredação de prédios públicos em Brasília em 8 de janeiro desse ano. Cleriston Cunha sofria de diabetes e hipertensão, e dependia de medicamentos de uso contínuo. O advogado do empresário anexou laudos médicos a um pedido de habeas corpus, por conta do risco de morte do detento.
O pedido de habeas corpus para responder ao processo em liberdade em razão de suas condições de saúde havia recebido parecer favorável da Procuradoria Geral da República, que o havia denunciado em cinco tipos penais previstos na Lei 14.197 de 2021, sancionada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
O pedido de habeas corpus foi negado por razões processuais, sem análise do mérito, pelo ministro André Mendonça.
Influenciadores digitais e imprensa bolsonaristas, como o jornal Gazeta do Povo, apressaram-se em “justificar” a recusa em conceder o habeas corpus por meio de interpretações criativas e erradas do regimento e de súmulas da suprema corte, com o único propósito de fazer a blindagem política do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Condutas como a do citado jornal e de outros, bem como da rede bolsonarista de agentes de desinformação e manipulação, chamada eufemisticamente de influenciadores digitais, dão a medida da falência moral da pseudo-direita brasileira hegemonizada pelo bolsonarismo.
O fato é que essa tragédia poderia ter sido evitada. Bastaria apenas um chamado, um único tuite ou um vídeo curto de vinte segundos do então presidente Jair Bolsonaro orientando seus apoiadores a saírem da sandice dos acampamentos em frente a quartéis, e irem para casa em paz, para retomar a atuação política como oposição no ano seguinte.
Mas nem mesmo esse gesto o ex-presidente teve dignidade e honra de fazer. Preferiu o silêncio enigmático, e igualmente covarde para não se comprometer, que foi usado e “interpretado” por sua rede de agentes desinformação e manipulação de massa para induzir milhares de pessoas a caírem numa cilada que custou a liberdade de centenas e a agora a vida de uma de suas vítimas.
Possivelmente a História do Brasil nunca conheceu um personagem político tão covarde, cínico, desumano, desonrado e manipulador. Jair Bolsonaro aquiesceu com as manifestações no pós eleição, para dois dias antes do término de seu fracassado mandato fugir do país abandonando a Presidência da República e seus apoiadores, a quem depois chamou de “bobos da corte”.
Nesse sentido, Jair Bolsonaro equipara-se no quesito de moral e honradez, ou falta de delas, a Domingos Calabar. E a evidência disso é seu silêncio até agora ante a morte de um seus apoiadores, um dos “bobos da corte”, e o empenho de sua rede de agentes de desinformação e manipulação em justificar a sequência de eventos que resultaram nesta tragédia.
A morte de Cleriston Pereira da Cunha é antes um sofrimento e dor sem fim para sua família, esposa e duas filhas, a quem a equipe do Inteligência Analítica expressa suas condolências e seu sentimento de pesar.
O morte do empresário e as atitudes, ou falta delas, observadas posteriormente representa também o atestado de óbito da falência ideológica e política e sobretudo da falência moral da pseudo-direita brasileira representada pelo flagelo moral do bolsonarismo.