por paulo eneas
É falso que não existe direita no Brasil. É fato que não existe uma direita política organizada em uma estrutura partidária competitiva capaz de fazer frente ao establishment controlado pela esquerda. A oportunidade que haveria de se formar uma direita política organizada foi deliberadamente sabotada entre os anos de 2019 e 2022, pois não era nem nunca foi intenção do bolsonarismo organizar e fortalecer a direita.

Mas existe um contingente expressivo da população, possivelmente a metade dos brasileiros, que abraça ideias políticas da direita e rechaça com ênfase quase toda a pauta e ideologia da esquerda. O resultado dos dois últimos pleitos presidenciais evidencia esse fato de modo inequívoco.

Cerca de metade dos eleitores brasileiros votaram em Jair Bolsonaro por que acreditaram que ele fosse um político de direita. Óbvio que existe uma diferença abissal entre o que o eleitor comum vê e percebe num político e aquilo que aquele político realmente é e os interesses que ele de fato ele defende. E Jair Bolsonaro é o exemplo cristalino dessa dicotomia.

Isto posto, entendemos que o pouco que existe de direita semi-organizada no Brasil por meio de grupos de ativistas ou de indivíduos que influenciam a opinião pública precisa neste momento retomar aquilo que foi perdido em anos recentes: a defesa de pautas. Todo o discurso da extinta direita existente até 2018 era em torno de pautas e programas.

A partir da segunda metade de 2019, aquela incipiente direita foi sequestrada pelo bolsonarismo e consequentemente abandonou a defesa de pautas, programas e valores, seguindo o caminho adotado pelo então Presidente Bolsonaro. A única “pauta” que essa direita passou a defender foi a manutenção de Bolsonaro no cargo a qualquer custo, independentemente das ações concretas de seu governo.

Nós estamos denunciando há mais de três anos este desvio de rota ocorrido no então governo e mostramos com base em evidência documentadas no Diário Oficial da União como o bolsonarismo tornou-se, ou sempre foi e demoramos a perceber, linha auxiliar da esquerda.

Ao demarcar claramente esse entendimento, esse campo da autêntica direita arcou com um custo político eleitoral enorme: esse campo tornou-se alvo de todo tipo de ataque, boicote e assassinato de reputação por parte do bolsonarismo, que colocou toda sua poderosa máquina de manipulação e desinformação para esmagar qualquer alternativa política à sua direita.

Pois o bolsonarismo entende que ele detém por direito divino o monopólio sobre o eleitorado de direita. A ação bolsonarista contra os conservadores evoluiu numa espécie de Cismogênese do B. Desta vez, uma cismogênese entre o bolsonarismo e o anti-bolsonarismo de direita.

Essa Cismogênese do B determina a pauta e a conduta desse campo minoritário da autêntica direita, que continua expondo de modo permanente o real papel e natureza do bolsonarismo como linha auxiliar do petismo, inclusive e principalmente na sua atuação no Congresso Nacional.

Isso posto, entendemos que é o momento da autêntica direita conservadora fazer um turning point: uma vez que este campo já está claramente demarcado e apartado do bolsonarismo, é chegado o momento de dar mais ênfase à construção de um discurso propositivo para além dos nichos exclusivamente ideológicos e militantes.

O campo da autêntica direita conservadora tem que mostrar e provar para os setores mais amplos da direita da sociedade brasileira que aquilo que propomos e defendemos em termos de pautas e políticas públicas é melhor do que aquilo que é proposto pelo bolsonarismo. Até por que, o bolsonarismo a rigor não propõe coisa alguma em termos de políticas públicas. Sua única função é a idolatria permanente a Bolsonaro.

Cabe agora a este campo da autêntica construir sua imagem como a direita que tem algo a dizer para a população no que diz respeito à vida das pessoas comuns, seus problemas concretos, estabelecer empatia com esses segmentos e mostrar as soluções que oferecemos.

Cabe a esta autêntica direita diferenciar-se da pseudo-direita-centrista bolsonarista que é incapaz de abordar os problemas concretos das pessoas e oferecer soluções. Pelo contrário, o bolsonarismo caracteriza-se hoje, entre outros, pelo exclusivo embate puramente retórico-ideológico com o petismo e pela repetição incessante do mantra de que “não tem como resolver os problemas após décadas de aparelhamento esquerdista”.

Por sua vez, a autêntica direita precisa se diferenciar desse discurso da desesperança diante dos olhos da população, e mostrar que temos propostas viáveis e mais efetivas do que aquelas da esquerda e da sua linha auxiliar, o bolsonarismo, para tratar das coisas que interessam de fato ao brasileiro comum.

Temos que mostrar para além dos nossos nichos ideológicos que somos melhores e mais capazes e distintos da pseudo-direita, cuja atuação política limita-se a denunciar e xingar petistas nas redes sociais visando gerar engajamento, mas que sempre vota junto com estes mesmo petistas no Congresso Nacional, como temos observado este ano.

Um exemplo desta postura distinta da autêntica direita conservadora pode ser visto no vídeo abaixo, onde Abraham Weintraub mostra os caminhos que podem se trilhados para o efetivo combate ao narcotráfico e seus subproduto de enorme implicações sociais: as cracolândias da capital paulista.


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