por paulo eneas
A discussão pública no campo daquilo que deveria ser a direita política brasileira mas não o é, pois este campo foi tomado pelo bolsonarismo que constitui-se apenas num movimento de natureza idólatra desprovido de qualquer conteúdo político-ideológico ou programático, deixou de existir para ser substituída pela repetição automática de briefings.

O briefing bolsonarista do momento, em vista das próximas eleições municipais, é aquele que diz que “a direita não ganha eleição na Cidade de São Paulo”.

A mesma cidade que foi o berço das grandes mobilizações de massa na história recente, desde os movimentos de 2013, as mobilizações pelo impeachment de Dilma Rousseff e o apoio ao então candidato Jair Bolsonaro, que os brasileiros enxergaram erroneamente como sendo de direita, está agora recebendo o carimbo de cidade vermelha por conveniência da corrente política, o bolsonarismo, que usurpou o campo da direita.

Este carimbo brifado não reflete qualquer análise política ou histórica séria: ele é apenas a narrativa conveniente do bolsonarismo para justificar o apoio que será dado ao candidato da esquerda do establishment político, o atual prefeito Ricardo Nunes.

A direita de fato nunca ganhou uma eleição na capital paulista, por que a direita nunca disputou uma eleição na cidade. Desde a volta da eleições diretas para prefeitos das capitais em 1997, o eleitor paulistano nunca teve a opção de votar em um candidato viável de direita, pois estes simplesmente nunca existiram.

No máximo ofereceu-se ao eleitorado nomes de figuras caricatas do establishment político fisiologista associadas ao regime militar apresentadas e descritas pela imprensa como sendo a “direita” paulistana.

Dentre estas caricaturas de direita, desponta a figura de Paulo Maluf, que chegou a fazer um sucessor, Celso Pitta, prefeito no período de 1997 a 2001 e que fez uma das piores gestões da história da cidade, comparável apenas à gestão desastrosa do hoje ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Anos depois, Paulo Maluf acabou aliando-se aos petistas.

Os demais ocupantes da prefeitura paulistana historicamente têm sido todos da esquerda por ausência de candidatos genuinamente da direita que viessem a disputar o cargo. Portanto, afirma que o eleitor paulistano em sua maioria vota na esquerda é de uma desonestidade intelectual ímpar, própria de quem não conhece a história política da cidade.

A oportunidade de apresentar ao eleitor paulistano um candidato de direita existiu em 2020, quando o então presidente Jair Bolsonaro, desfrutando ainda de uma razoável popularidade e confiança junto ao eleitorado de direita, poderia ter bancado um nome próprio da direita para a disputa municipal daquele ano.

Em vez disso, Jair Bolsonaro tentou em vão transferir sua popularidade para o obscuro Celso Russomano, político que nunca foi da direita. O eleitorado rechaçou a escolha e o candidato bolsonarista sequer foi para o segundo turno, que foi disputado entre a esquerda psolista com Guilherme Boulos e esquerda tucana com Bruno Covas, que saiu vencedor.

Ou seja, Jair Bolsonaro agiu unicamente para fortalecer a estratégia das tesouras tucano-petista que há décadas prevalecia na cidade, com os petistas sendo apenas substituídos pelo candidato de seu partido irmão, o PSOL, e impedir o surgimento de uma liderança política da direita.

Para o ano que vem, Jair Bolsonaro e seus chefes do Centrão decidiram novamente impedir que os eleitores paulistanos possam escolher uma opção de direita: o bolsonarismo irá apoiar o atual prefeito, Ricardo Nunes, homem da esquerda do establishment político.

Pouco importa para o bolsonarismo que a atual administração de Ricardo Nunes, que sucedeu o falecido tucano Bruno Covas, seja compartilhada com petistas e esquerdistas em geral, como Martha Suplicy. Pois a administração também é compartilhada com políticos do Partido Liberal, de Jair Bolsonaro e chefiado por Valdemar da Costa Neto.

Deve-se observar também que os reais problemas da cidade de São Paulo estão, e permanecerão, ausentes do debate político eleitoral.

Pois essa é a natureza intrínseca da esquizofrenia criada no ambiente político brasileiro pela falsa polarização bolsonarismo x petismo: os problemas reais da população pouco importam. Importa apenas o embate ideológico, no campo da esquerda, entre estas duas forças hegemônicas na políticas.

A depender do bolsonarismo, os problemas reais da cidade de São Paulo prosseguirão ausentes do debate público e o eleitorado paulistano prosseguirá sem opção de candidato de direita, como ocorreu em 2020 e como ocorre há décadas.

A única opção que pode surgir no campo da direita é a do ex-ministro Abraham Weintraub, que poderá sair como candidato a prefeito da capital paulista. Caso Abraham Weintraub saia como candidato, os bolsonaristas irão dedicar mais empenho e esforço em atacá-lo do que em confrontar Guilherme Boulos do PSOL.

Pois o problema do bolsonarismo não é nem nunca foi com a esquerda, de quem é objetivamente aliado: a obsessão do bolsonarismo é impedir o surgimento de uma liderança no campo da autêntica direita.

Por fim, cumpre observar-se que a despeito da força da máquina eleitoral bolsonarista e do Governo de São Paulo, não podemos descartar a possibilidade de fracasso eleitoral de Ricardo Nunes, dada a inexpressividade e obscuridade políticas do atual prefeito paulistano. Caso isso se confirme, haveria chance real de vitória de Guilherme Boulos.

A vitória psolista pode ser o objetivo real e a intenção não manifesta de Jair Bolsonaro, assim como era sua intenção não manifesta assegurar a vitória de Bruno Covas em 2020. Desta forma, Bolsonaro estará cumprindo mais uma etapa de sua missão, na qual já estava empenhado desde quando era presidente, de fortalecer a esquerda brasileira.

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